quarta-feira, 1 de agosto de 2012

A necessidade da literatura

O papel da biblioteca

Por Silvia Castrillón


Presidente da Associação Colombiana de Leitura e Escrita (Asolectura), é formada em biblioteconomia com especialização em educação. É especialista em políticas públicas de apoio à leitura e escrita, trabalha na concepção e implantação de projetos e campanhas de fomento ao livro e à leitura e bibliotecas públicas e escolares. Durante sua direção, a Fundação para o Fomento à Leitura (Fundalectura) recebeu em 1995 o premio IBBY-ASAHI, a mais importante distinção outorgada ao trabalho na promoção de leitura. Participa do comitê executivo da IBBY (International Board on Books for Young People) e é consultora de organismos internacionais como a UNESCO, a Organização dos Estados Americanos, Organização dos Estados Ibero-Americanos, Cerlalc e ONU, entre outros. Autora do livro O direito de ler e de estiver (editora Pulo do Gato).
Esta reflexão se propõe a pensar a necessidade da literatura e o papel que a biblioteca escolar pode desempenhar nesse reconhecimento. Assim como a necessidade de que a escola garanta às crianças o acesso à literatura, a uma literatura de qualidade; e ao papel que a biblioteca escolar pode desempenhar nessa direção.
Para começar, gostaria de colocar uma pergunta, que não sei se faz justiça à escola, mas que é a preocupação de muitos: O modelo educacional atual excluiu a literatura, não somente como experiência estética, mas também como objeto de estudo?
Com minhas palavras, desejo prestar homenagem a duas pessoas que não estão mais entre nós, mas que, de formas distintas, foram a vanguarda de uma reflexão sobre a leitura – e, em especial, da literatura. Seus textos nos acompanham e esse é, justamente, um dos valores da literatura. São eles: Bartolomeu Campos de Queirós e a escritora argentina Graciela Montes.

A educação atual em nossos países – e temo que nisso também se manifeste a globalização – tornou supérflua a presença da literatura na sua condição de possibilidade de busca de sentido e como forma de conhecimento existencial. E ainda, o ensino da literatura, como objeto de análise e como fato histórico, passou a segundo plano, para deixar os primeiros postos aos saberes de maior prestígio no mundo contemporâneo.

O modelo educacional é pragmático e utilitário, forma para a competitividade e oferece o sucesso como meta. Um sucesso calcado na acumulação de bens materiais e em dar as costas a quem não o consegue, à maioria, portanto.

Por outro lado, esse modelo privilegia um suposto conhecimento – pragmático e utilitário – que se reduz a um acúmulo de informação. Informação que, segundo esse mesmo modelo, caduca, porque se exige de quem se forma uma permanente atualização – a chamada reciclagem – o que não seria negativo, se reconhecesse e partisse de aprendizados anteriores.

Esse conhecimento proposto pela escola não tem nada a ver com um conhecimento existencial, com uma busca de si mesmo, com uma indagação sobre o sentido da vida, do mundo e do papel de cada um em sua construção. Com um “compreender melhor a vida e a morte”, nas palavras de Fernando Bárcena.

Esse modelo não promove a reflexão, a introspecção, o diálogo interior, a contemplação. Tudo o que não pode ser medido por um número está fora de suas preocupações. E só propõe o caminho fácil, negando a dificuldade.

Supostamente, esse modelo tem como propósito a formação da autonomia e da subjetividade, contudo, essa formação não ocorre a partir do reconhecimento do outro nem da responsabilidade que se tem frente a ele. Pelo contrário: se constrói por meio da competição e da formação de pessoas individualistas, egoístas e, de certo modo, autistas.

Esse modelo privilegia a rapidez e a busca pela novidade, rende tributo à velocidade. Nega a memória como patrimônio que pertence a todos e que se forma mediante o acúmulo. Como diz George Steiner: “hoje, nossa escolaridade é amnésia planejada”.
Valoriza-se, de maneira equivocada, o local e o territorial como forma de enfrentar o global; igualmente, reconhece o multiculturalismo, mas como resposta às políticas de identidade e não como um saudável e necessário reconhecimento da diferença, sem estimular o diálogo entre grupos e culturas. Promove uma estima falsa das culturas populares, étnicas e juvenis, negando condições e valores universais.

Por último, com esse modelo, perdeu-se o valor da palavra, tanto a oral como a escrita. Em um enfrentamento com a imagem, onde os únicos que perdem são as crianças e os jovens que ficam privados da palavra.

Tudo o que foi dito anteriormente não pode ser generalizado, pois exceções acontecem, especialmente quando professores e bibliotecários são conscientes dessa realidade e fazem algo para transformá-la.

Tampouco se pode atribuir à escola a responsabilidade por esse modelo, pois a sociedade determina as metas; a sociedade entendida como nação, mas também, a sociedade de um mundo globalizado, onde essas metas são cada vez mais homogêneas.

A biblioteca escolar poderia contribuir com a transformação desse modelo, dando à leitura e à escrita uma dimensão que permita a reflexão, o diálogo e o pensamento, associados à presença da literatura, abrindo tempo e espaço para ela. Fazendo, com os professores, um trabalho em primeira mão de leitura e discussão de textos literários de qualidade, que desse aos clássicos destaque especial.

Por que a literatura

Não é necessário acrescentar mais evidências, além das reconhecidas por todos, sobre a necessidade da literatura. Somente e, em homenagem a Bartolomeu, gostaria de recordar algumas de suas palavras:

A literatura é capaz de abrir um diálogo subjetivo entre o leitor e a obra, entre o vivido e o sonhado, entre o conhecido e o que ainda está por conhecer; considerando que esse diálogo entre as diferenças – inerente à literatura – nos confirma como participantes de redes de relações; [reconhece] a flexibilidade do pensamento, participa da construção de novos desafios para a sociedade; (...) por sua configuração, acolhe a todos e convoca para o exercício de um pensamento crítico, ágil, imaginativo; (...) a metáfora literária acolhe as experiências do leitor sem ignorar suas singularidades.
Por tudo isso, Bartolomeu propõe que a leitura literária é um direito de todos, que ainda não está escrito. Direito que também reclamou outro grande brasileiro: Antonio Candido.

Ordenação do caos, forma de conhecimento existencial e humano, reconhecimento do outro, estímulo à reflexão, possibilidade de tomar distância diante do mundo, encontro de uma posição, como disse Sartre, entre “um universalismo dogmático e um relativismo pragmático”, forma de tornar própria uma das heranças mais importantes da humanidade – e de conectar-se com ela – de dotar com palavras o silêncio e a angústia das crianças e jovens. A literatura nos oferece tudo isso e muito mais: um prazer que advém de tudo o que foi dito antes. Não é prazer transcendente o que se propõe quando se oferece como forma de diversão ou recreação, como mercadoria ou bem de consumo.

Por tudo isso, a escola deveria ser a “grande ocasión” como diz Graciela Montes e, para tal, segundo ela, deve:

Garantir um espaço e um tempo, textos, mediadores, condições, desafios e companhia para que o leitor se instale em sua posição de leitor (...) (que é uma postura única, inconfundível, que supõe certo recolhimento e um distanciamento, um por-se à margem para, então, produzir observação, consciência, viagem, pergunta, sentido, crítica, pensamento) (...)
A escola deve incentivar as audácias [de crianças e jovens], acompanhar suas dúvidas, contribuir com a sua poética, fortalecer sua qualidade de sujeitos de uma experiência, ajudá-los a ampliar essa experiência, ouvir as narrações, as intervenções, os registros, facilitar seu ingresso ao universo cultural e dar-lhes possibilidades para misturar-se em sua trama...


E, em certa medida: “enfrentar o aluno com a alteridade, com aquilo que não é ele, para que compreenda melhor a si mesmo”, como disse a professora francesa Cécile Ladjali, em um diálogo com George Steiner. Dando, ao mesmo tempo, sentido às palavras silêncio, escuta e cortesia.

Creio nisso e penso que a melhor maneira de consegui-lo é por meio da biblioteca escolar, que está conclamada a realizar um trabalho em sintonia coma a sala de aula e com todos os professores. E é o bibliotecário, leitor convencido da necessidade da literatura, a quem cabe convocar os professores e diretores para esse propósito, se não quisermos que a maioria de nossas crianças seja excluída desse direito à literatura. E à melhor literatura.

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Referências Bibliográficas
Bartolomeu Campos de Queirós, Manifesto por um Brasil literário. Bogotá: Asolectura, 2012.

Fernando Bárcena, El alma del lector. La educación como gesto literário. Bogotá: Asolectura, 2012.
George Steiner; Cécile Ladjali, Elogio de la transmisión. Madri: Siruela, 2005.
Graciela Montes, La gran ocasión. Buenos Aires: Ministerio de Educación, Ciencia y Tecnología, 2007.
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* Texto apresentado na FLIP 2012, na mesa Biblioteca da Escola, promovida pelo Movimento por um Brasil Literário.
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 TRADUÇÃO: THAIS ALBIERI

Fonte:
http://www.revistaemilia.com.br/mostra.php?id=217

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Opinião: A leitura da leitura

"Se considerarmos que a leitura é fator essencial para o desenvolvimento humano, social e econômico de um país, encontramos um dos motivos do nosso atraso", afirma Lucília Garcez

Fonte: Correio Braziliense (DF)

*Lucília Garcez. Doutora em linguística, escritora, ex-professora da UnB, autora de técnica de redação, entre outros livros.

Se você está lendo este texto significa que está entre os 26% da população que atingiu o alfabetismo pleno. Você conquistou e dominou uma das tecnologias mais sofisticadas e refinadas que o processo civilizatório desenvolveu. Compreende que a leitura é emancipadora, libertadora, iluminadora e nos permite observar a vida através de muitos outros olhares, o que nos amplia a visão de mundo.

Mas, segundo a recente pesquisa da Ação Educativa e do Instituto Paulo Montenegro, com o Ibope, 32,5 milhões de brasileiros acima de 15 anos são analfabetos funcionais, ou seja, apenas decodificam as palavras, mas são incapazes de compreender o que leem e de usar a leitura e a escrita como instrumentos de ação efetiva nas práticas sociais. E, mais grave, o ensino universitário não assegura solução, pois 38% dos portadores de diploma de curso superior não alcançam o nível de alfabetização plena.

Esses dados não são surpreendentes em um país de não leitores. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2011, do Instituto Pró-livro, mostrou que 50% dos brasileiros não têm o costume de ler, 75% da população nunca entrou numa biblioteca, e a média de livros por habitante/ano é 4, inclusive os didáticos; sem os didáticos, a leitura cai para 1 livro por habitante/ano.

Em países de Primeiro Mundo, os índices indicam mais de 10 livros por habitante/ano. Se considerarmos que a leitura é fator essencial para o desenvolvimento humano, social e econômico de um país, pois o avanço tecnológico depende de qualificação e a qualificação está ligada à habilidade de leitura, encontramos um dos motivos do nosso atraso.

É urgente reverter o quadro da leitura no Brasil. Mas dominar essa competência envolve um percurso, muitas vezes descontínuo e cheio de obstáculos, e qualquer iniciativa em direção ao estímulo à leitura deve envolver diversos agentes e diferentes segmentos sociais: famílias, escolas, professores, bibliotecários, autores, meios de comunicação, governo.

O desenvolvimento da leitura depende de convívio contínuo com histórias, livros e leitores, desde a primeira infância; valorização da leitura pelo grupo social; disponibilidade de acervo de qualidade e adequado aos horizontes de desejo e aos diferentes estágios de leitura dos leitores; tempo para ler, sem interrupções; ambiente de segurança psicológica e de tolerância dos educadores em relação ao percurso individual de superação de dificuldades; e oportunidades para expressar e compartilhar interpretações e emoções vividas nas experiências de leitura.

O ato de ler, seja texto informativo ou de Guimarães Rosa, é, simultaneamente, atividade individual única e experiência interpessoal profunda e intensa, um exercício dialógico ímpar, pois, entre leitor e texto, se desencadeia um processo de decifração, interpretação, reflexão e reavaliação de conceitos absolutamente renovado a cada leitura.

A leitura exige procedimentos mentais complexos construídos pela mediação do outro: o pensamento abstrato, a memorização, a atenção voluntária, o comportamento intencional, as ações conscientemente controladas, a generalização, as associações, o planejamento, as comparações, ou seja, as funções superiores da mente que nos fazem humanos, como afirma Vygotsky.

Nem sempre é procedimento fácil. Ela faz inúmeras solicitações simultâneas ao cérebro. Desde a decodificação de signos, interpretação de itens lexicais e gramaticais, agrupamento de palavras em blocos conceituais, identificação de palavras-chave, seleção e hierarquização de ideias, associação com informações anteriores, antecipação de informações, elaboração e reconsideração de hipóteses, construção de inferências, compreensão de pressupostos, controle de velocidade, focalização da atenção, avaliação do processo realizado, até a reorientação dos próprios procedimentos mentais para a compreensão efetiva e responsiva, realiza-se um complexo processo cognitivo. E ler se aprende lendo.

Além disso, a leitura não se esgota no momento em que se lê, mas se expande por todo o processo de compreensão que antecede o texto, explora-lhe as possibilidades e prolonga-lhe o funcionamento para depois da leitura propriamente dita, enriquecendo a vida e o convívio com o outro. Como se vê, trata-se de atividade exigente, que vai na contramão dos apelos da nossa sociedade veloz. Em boa hora o Minc e a Biblioteca Nacional lançam a campanha Leia Mais, Seja Mais, no âmbito da ações do Plano Nacional do Livro e Leitura, que tem como um dos eixos a valorização social da leitura.


http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/23517/opiniao-a-leitura-da-leitura/

Prima participa de importante evento de biblioteconomia

A Prima esteve presente em um dos eventos mais importantes para área de biblioteconomia, o Annual Conference and Exhibition: transforming our libraries, ourselves, promovido pela American Library Association -ALA- em Anaheim, Califórnia.

O evento ocorreu entre os dias 21 e 26 de junho, e teve aproximadamente 11.000 participantes. Durante os dias de congresso, foi possível conhecer a realidade das bibliotecas americanas, e identificar a linha evolutiva das adequações na padronização descritiva, - FRBR, RDA, MARC, AACR2- detectar tecnologias e novos recursos em sistemas integrados de bibliotecas.

Segundo Liliana Serra, bibliotecária da Prima, nas discussões foi possível detectar as mudanças na área da ciência da informação, além da interação com bibliotecários de diversas nacionalidades.

A Prima teve duas representantes presentes, Daniela Barreto, Coordenadora do Desenvolvimento do Software SophiA Biblioteca, e Liliana Serra, Bibliotecária, além delas havia aproximadamente 10 brasileiros, sendo que apenas duas empresas enviaram mais de um representante, entre elas a Prima.

Estar em um dos congressos mais importantes do mundo nos ajudará a definir os avanços técnicos e funcionais para o SophiA Biblioteca, em consonância com o que há de mais moderno no mercado de biblioteconomia, afirma Eduardo Voigt, sócio-diretor da Prima.

Fonte: http://www.primasoft.com.br/2006/html/noticias.php?cod=410