sábado, 29 de maio de 2010

Bibliotecas públicas

Carlos Eduardo - Advogado e ex-prefeito de Natal

Pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas no ano passado para o Ministério da Cultura constatou que 21% dos municípios brasileiros não possuem bibliotecas públicas municipais. Os pesquisadores visitaram 4.905 municípios e monitoraram outros 600 por telefone. O levantamento mostra que 91% das unidades não oferecem condições de acessibilidade para pessoas portadoras de deficiência visual e 94% não têm serviços que permitam o acesso de pessoas com demais necessidades especiais. Para Fabiano Piuba, diretor de Livro, Leitura e Literatura do Ministério da Cultura, o estudo revelou um dado estarrecedor. Segundo ele, “pode parecer incrível, mas alguns gestores se recusam a receber uma biblioteca pública, então é preciso fazer um trabalho de conscientização”. Isso, em pleno século XXI, é um absurdo. Principalmente porque o Ministério vai investir este ano R$ 30,6 milhões em 300 bibliotecas pelo país para a modernização de equipamentos, construção de espaços e adequação dos locais para pessoas portadoras de deficiência. Quer dizer, os recursos estão aí, batendo às portas das prefeituras.

Analisando ainda o estudo sob o prisma da inclusão digital, 45% das bibliotecas contam com computadores com acesso à internet, mas somente 29% delas oferecem tal serviço à população. É de se lamentar, pois 65% dos usuários entrevistados utilizam as bibliotecas públicas municipais para pesquisas escolares. Por tudo isso, em boa hora o presidente Lula sancionou a lei que determina a instalação de bibliotecas em todas as instituições de ensino do país, sejam públicas ou privadas, devendo cada biblioteca ter, no mínimo, um título para cada aluno matriculado. Como estabelece a lei, as bibliotecas escolares deverão oferecer “coleção de livros, materiais videográficos e documentos registrados em qualquer suporte destinados a consulta, pesquisa, estudo ou leitura”. A legislação determina um prazo de 10 anos para a instalação e funcionamento dessas bibliotecas em todas as escolas brasileiras.

Como vivemos em plena era cibernética, onde, segundo reportagem da revista Veja, mais de 32 milhões de brasileiros, quase metade do total de usuários de internet do país, têm experiência de conexão de banda larga através de milhares de lan houses espalhadas de norte a sul do país, parece ultrapassada a famosa frase de Monteiro Lobato de que “um país se faz com homens e livros”. Na verdade, devemos entender a palavra livros como o arcabouço cultural de um povo, a formação intelectual do indivíduo, em última análise, educação. Foi justamente tal ferramenta que alavancou as economias dos chamados tigres asiáticos, pois ela foi a base do desenvolvimento econômico e social daquelas nações, que impressionaram o mundo com um formidável salto de progresso. Essa percepção presente nas vidas de Darcy Ribeiro, Leonel Brizola, Cristovam Buarque, dentre outros brasileiros, deve fazer parte do dia-a-dia dos nossos gestores. É a educação a mola propulsora do crescimento econômico e social de um país. E incrementá-la se faz imprescindível a partir dos municípios, a célula menor da administração pública, mas talvez a mais importante por estar tão próxima do cidadão. Em nossa gestão na Prefeitura de Natal, construímos 346 salas de aula e recuperamos outras 261, num total de 607 salas, o que significa que a cada três dias e meio construímos ou recuperamos uma sala. E entendo isto como uma obrigação do gestor público. Afinal, só o saber e o conhecer nos faz avançar.
Publicado originalmente no Jornal Tribuna do Norte em 29/05/2010
http://tribunadonorte.com.br/noticia/bibliotecas-publicas/149750

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