domingo, 18 de julho de 2010

A Mário de Andrade reencontra o público

"Reforma parcial devolve aos paulistanos sua principal biblioteca, agora também circulante

GABRIELA LONGMAN

Intensificar a relação com a cidade. Esse parece ser o propósito da modernização da Biblioteca Mário de Andrade, que reabre parcialmente suas portas na quarta- feira depois de quase três anos fechada para reforma.

A seção Circulante volta a ocupar o prédio, com 42 mil volumes para empréstimo, 130 lugares em mesas de estudo e uma sala para a nova Coleção São Paulo -um conjunto de mil livros sobre a cidade disponíveis para consulta.

Dispostos lado a lado, um ensaio fotográfico de São Paulo em 1900, um livro contando a história do Teatro Oficina ou um tratado sobre as plantas mais comuns na região metropolitana podem satisfazer a ânsia de conhecimento de pesquisadores e curiosos.

"A ideia é passar por todos os temas que envolvem: arquitetura, história, economia...", explica William Okubo, diretor do acervo. "Quando alguém estiver passeando no centro e gostar de um prédio, poderá vir direto à biblioteca saber mais sobre ele."

Segundo a diretora da instituição, Maria Christina de Almeida, institutos de pesquisa como Sebrap ou Instituto Pólis estão sendo procurados para que seus estudos sobre a metrópole estejam disponíveis no novo espaço.

As medidas arquitetônicas parecem implementar um diálogo do interior da biblioteca com o entorno. Um corredor de vidro foi construído para interligar a Circulante à torre principal (ainda em reforma), onde ficam guardados mapas, obras de arte e os cerca de 300 mil volumes do acervo fixo.

Os passantes que atravessam o corredor veem e são vistos pelos passantes que caminham na calçada do lado de fora numa espécie de jogo. "Esse projeto teve por objetivo recuperar o caráter público do edifício. O plano é que ele volte a se relacionar com a praça de novo, com os cafés, com as passagens, com o teatro que está em volta", diz a arquiteta Renata Semim, uma das responsáveis pelo restauro e reforma do conjunto.

Nas salas que serão reinauguradas na quarta-feira, dia 21, chama atenção o contraste bem-sucedido entre o mobiliário de madeira antiga (restaurada) e as modernas estruturas de iluminação das mesas.

Um espaço foi reservado para receber atividades culturais -lançamentos, debates, leituras dramáticas. No próximo dia 26, por exemplo, o cineasta Ugo Giorgetti vai à biblioteca falar sobre a produção cinematográfica em São Paulo. "Queremos trazer os velhos frequentadores de volta à biblioteca", diz a diretora.

Voltam os empréstimos
Criada em 1944, a coleção Circulante deixou o prédio da Mário de Andrade em 1975. Desde então, ocupou diversos endereços. O retorno a Mário de Andrade só foi possível porque o acervo fixo -que não cabia mais no edifício- ganhou um prédio "anexo", o antigo edifício do Ipesp (Instituto da Previdência do Estado de São Paulo), que agora pertence à prefeitura e está sendo reformado para abrigar o acervo de periódicos (cerca de 2,8 milhões de fascículos).

Os trabalhos com o acervo fixo incluem limpeza, nova catalogação, digitalização e reforço de questões de segurança. Ninguém quer lembrar os acontecimentos de 2005, quando gravuras e documentos históricos foram roubados.

"Um corredor de vidro foi construído para ligar a biblioteca Circulante à torre principal do complexo"

Ranking dos maiores acervos municipais no centro

Mário de Andrade 302 mil (dos quais 42 mil estão disponíveis)
Centro Cultural São Paulo 140 mil
Monteiro Lobato 63.113
Raul Bopp 39.412
Fonte: Secretaria Municipal de Cultura"
Publicado originalmente em Revista São Paulo de 18/07/2010

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