sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ex-ministro da Cultura critica discurso de Ayatollah Ali Khamenei

"Líder supremo do Irão declara os livros “drogas venenosas”

Carla Guerreiro Santos
O Supremo Líder do Irão, ayatollah Ali Khamenei, reprovou os livros com “motivações políticas implícitas” e alertou para o seu perigo, associando-os a “drogas venenosas”.

O ex-ministro da Cultura iraniano Ataollah Mohajerani criticou a decisão do Supremo Líder de restringir o acesso à literatura, depois de ter atacado publicamente “livros nocivos”.

Numa reunião com bibliotecários e funcionários da indústria livreira do Irão, na quarta-feira, Khamenei reprovou os livros “com uma aparência cultural mas com motivações políticas específicas escondidas.”

De acordo com o seu site oficial, Khamenei.ir, o Líder Supremo afirmou que “nem todos os livros são necessariamente bons e nem todos são nocivos, só alguns”.

Mohajerani, que foi ministro da Cultura até 2000 durante o regime do Presidente reformista Mohammad Khatami, afirmou que Khamenei está preocupado com livros “literários, filosóficos e sociais” que possam levantar questões sobre a sua legitimidade como Líder Supremo. "Acho que ele receia livros que possam implícita ou explicitamente comprometer a sua posição e também a sua validade.”
Na altura em que Mohajerani era ainda ministro, a relação entre ele e Khamenei ficou tensa pelas medidas que o ex-chefe da pasta da Cultura implementou, entre elas o favorecimento a uma enorme abertura cultural e a remoção de milhares de títulos da lista de livros proibidos.

Alguns analistas acreditam que a sua falta de deferência para com Khamenei foi outra das razões que o levou a ser atacado por religiosos conservadores, os quais o forçaram a finalmente se demitir. Depois disto, Ataollah Mohajerani foi viver para Londres em exílio e várias publicações fecharam.
No seu discurso, o Líder Supremo, de 72 anos, cujas declarações são interpretadas como indicações oficiais a seguir, recusou-se a dar mais pormenores sobre quais os livros considerados por ele “nocivos”. E acrescentou: “Os responsáveis da indústria livreira não devem permitir que livros perigosos entrem no nosso mercado com base na ideia de que nós deixamo-los [leitores] escolher [o que eles querem ler].”

“Como drogas venenosas, perigosas e viciantes, que não estão disponíveis para todos sem restrições. Como editor, bibliotecário ou funcionário da indústria livreira, não temos o direito de fazer [tais livros] circular livremente. Devemos dar-lhes livros saudáveis e bons”, disse no mesmo discurso.
Títulos como a versão não censurada do Simpósio de Platão, a Viagem ao Fim da Noite de Louis-Ferdinand Céline e outros autores como James Joyce, Gabriel García Márquez, Kurt Vonnegut e Paulo Coelho foram banidos há pouco tempo pelo Ministério da Cultura iraniano e pela orientação islâmica, a qual veta os livros antes da sua publicação.

Apesar da Constituição iraniana proibir a censura, os editores têm de submeter todos os livros ao Ministério da Cultura onde são analisados por três pessoas que separadamente definem as palavras e frases a censurar ou que as marcam como “inapropriadas” para publicação.

Os comentários do Líder Supremo estão na origem das queixas de escritores sobre o longo período de tempo que têm levado os processos de edição de livros, tendo alguns esperado durante meses e até anos para obter a autorização.
Devido à grande censura no Irão, muitos escritores célebres iranianos, como Mahmoud Dolatabadi e Reza Barahani, cujos livros foram proibidos no país, escolheram publicar as suas obras no estrangeiro. "
Publicado originalmente http://www.publico.pt/Mundo/lider-supremo-do-irao-declara-os-livros-drogas-venenosas_1504254

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