quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sobre as bibliotecas públicas de São Paulo

"CARLOS AUGUSTO CALIL
O investimento em reformas de 37 bibliotecas atingiu R$ 7 milhões, enquanto R$ 9 milhões foram destinados à aquisição de livros novos

A reabertura da seção circulante da Biblioteca Mário de Andrade, ocorrida ontem, é um excelente ponto de partida para discutir o acesso à leitura em São Paulo.
Em editorial publicado na última sexta-feira, 16 de julho, o jornal "Agora São Paulo", do Grupo Folha, celebrou simpaticamente a reabertura da circulante, que oferece acervo renovado, com títulos que figuram entre as listas de mais vendidos, e afirmava que o modelo deveria ser multiplicado.
É natural que a Biblioteca Mário de Andrade receba mais atenção da imprensa do que as outras 62 bibliotecas da rede municipal, pela sua importância histórica e cultural. Contudo, a renovação de acervos, associada a reformas estruturais de prédios públicos, vem sendo praticada pela gestão Serra/ Kassab desde 2005.
O investimento em reformas de 37 bibliotecas atingiu R$ 7 milhões, enquanto outros R$ 9 milhões foram destinados exclusivamente à aquisição de livros novos.
Os resultados não tardaram: no último mês de junho, a frequência de público nas bibliotecas da cidade foi de 83 mil pessoas.
O retorno do leitor à biblioteca é o reconhecimento do cuidado com o patrimônio público. Recente reabertura da Biblioteca Paulo Setúbal em Vila Formosa mereceu pouco destaque na imprensa. E, no entanto, o seu caso é exemplar.
Engradada, voltada para dentro de si própria, escura e deprimida, o seu sólido edifício encantou um jovem arquiteto que a fez ressurgir em sua plenitude. Vale a pena avaliar essa revitalização, cujo custo foi de pouco mais de R$ 1 milhão.
Em 2007, a Folha publicou uma nota na coluna "Há 50 anos" em que mostrava pela voz de Sérgio Milliet, ilustre diretor da Biblioteca Mário de Andrade, a necessidade imperiosa de impermeabilização da cobertura do prédio e de expansão de espaço para abrigar sua coleção de periódicos.
O título da matéria de 1957 era: "Biblioteca tem filas e goteiras".
Por que ninguém ouviu o apelo do grande crítico? Por que tivemos de esperar 50 anos para atender aos seus reclamos?
A intervenção em curso, iniciada em 2007, devolve à Mário o lugar que é só seu -na praça, na cidade e no país. Esse esforço faz parte de um programa de revitalização do centro e conta com financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em parceria com a Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura.
Com a cessão do antigo prédio do Ipesp, na rua Bráulio Gomes, pelo governo do Estado, concretiza-se o desejo histórico da "segunda torre", dedicada exclusivamente ao acervo de periódicos.
A obra de adaptação do edifício já começou, elevando o investimento na Mário de Andrade a mais de R$ 26 milhões.
A biblioteca reabre plenamente no início do próximo ano e o seu anexo será concluído ao longo de 2011. Dessa forma, ela estará preparada para reassumir seu papel indispensável na cultura da cidade."

CARLOS AUGUSTO CALIL, 59, é secretário municipal de Cultura de São Paulo e professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA/USP.

Publicado originalmente na Folha de São Paulo- Tendências e Debates em
22/07/2010

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